Embora o aprendizado da língua escrita não seja exatamente similar ao da língua oral, é útil prosseguir com o contraste entre as atividades sociais frente às duas aprendizagens. No caso da aprendizagem oral, os adultos que rodeiam a criança manifestam entusiasmo quando ela faz suas primeiras tentativas para comunicar-se oralmente. Mesmo pronunciando errado, todos tentam entender o que a criança disse e respondem, retraduzindo no código adulto o significado identificado na emissão infantil.
No caso da língua escrita, o comportamento da comunidade escolar é marcadamente oposto. Quando a criança faz suas primeiras tentativas para escrever, é desqualificada de imediato por seus “erros”. Desde as primeiras escritas, o traçado deve ser correto e a ortografia convencional. Ninguém tenta traduzir o que a criança escreveu, porque lhe nega o direito de aproximar-se da escrita por um caminho diferente do indicado pelo método escolhido pelo professor.
As pesquisas sobre os processos de aquisição da língua oral mostram claramente que a repetição desempenha um papel muito limitado nesse processo. Sabemos que as crianças aprendem muito mais construindo do que repetindo o que os outros disseram. Em língua escrita esses processos de construção muitas vezes são proibidos. Nenhuma das metodologias tradicionais cogita que desde o início do processo de alfabetização, as crianças possam escrever palavras que nunca antes copiaram, e que essas tentativas para construir uma representação são tão importantes nessa aprendizagem, como as tentativas para dizer algo em língua oral. Nenhuma dessas metodologias pensa em dar instrumento para o professor saber ler, ou seja, interpretar essas produções infantis, para poder traduzi-las, sem desqualificá-las.
Em língua oral permitimos à criança que se engane ao produzir, tanto quanto ao interpretar, e, que aprenda através de suas tentativas para falar e para entender a fala dos outros. Em língua escrita as metodologias tradicionais penalizam continuamente o erro, supondo que só se aprende através da reprodução correta, e que é melhor não tentar escrever, nem ler, se não está em condições de evitar o erro. A conseqüência inevitável é a inibição: as crianças não tentam ler nem escrever e, portanto, não aprendem.
Na língua oral não se aprende um fonema nem uma sílaba, nem uma palavra por vez. As palavras são aprendidas, são desaprendidas, são definidas, são redefinidas continuamente. Não há um processo cumulativo simples, unidade por unidade, mas organização, desestruturação e reestruturação contínua. As crianças procuram ir sistematizando o que aprendem, põem à prova a organização conseguida através de atos efetivos de utilização do conhecimento adquirido, e reestruturam quando descobrem que a organização anterior é incompatível com os dados da experiência. São ativas por natureza; não se trata de motivá-las para que o sejam. O que desmotiva, o que dificulta a aprendizagem, é impedir esses processos de organização da informação.Isso não significa que o processo de aquisição da língua escrita seja natural e espontâneo, que o professor se limite a ser um espectador passivo, nem que seja suficiente rodear a criança de livros para que aprenda sozinha. É um processo difícil para a criança, mas não mais difícil que outros processos de aquisição de conhecimento. Elas começam aprendendo as letras do nome, e com elas constroem todo universo escrito a sua volta, vão tendo noções posicionais (direita para esquerda ao escrever), posteriormente, tipo de comunicado, tais como: bilhetes, cartas, listas e etc.
domingo, 26 de julho de 2009
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Nao ficou claro a que se refere esta postagem!!... Nao parece ser uma reflexao feita a partir de nossas aulas. Se foi retirado de algum site, 'e importante colocar os creditos...
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